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Helô dearest of my heart

02 de setembro de 2016

Ana Cristina Cesar viajou para Londres em setembro de 1979. Passaria o ano seguinte estudando Tradução e Prática Literária na Universidade de Essex, curso que mais tarde lhe conferiria o título de mestre, com tese sobre o conto “Bliss”, de Katherine Mansfield.

É a esse período que pertencem as mais de trinta cartas enviadas por Ana C. a Heloisa Buarque de Hollanda, sua constante correspondente naqueles meses. Cartas que passaram a integrar o Arquivo Ana Cristina Cesar no Instituto Moreira Salles desde agosto último e estão disponíveis para consulta.

Com tom sempre amoroso e vocativos variando entre Helô Paixão, Helô dolcezza, Helô love e Helô dearest of my heart, as cartas para a amiga – professora e crítica que, em 1976, organizou a hoje clássica antologia 26 Poetas Hoje com boa parte da chamada “poesia marginal” dos anos setenta, incluindo Ana Cristina – se desdobram em duas, três, até oito páginas. Ali acompanhamos parte do processo de acomodação de Ana Cristina e, por vezes, sua aflição ao tentar se estabelecer na capital londrina do final da década de 1970 e início da década de 1980.

Naturalmente, numa conversa de amiga para amiga, as notícias vão desde as atividades cotidianas – com comentários sobre produtos curiosos, exercícios de ioga, filmes vistos, roupas novas e a descoberta de um pub descolado –, até a visita a uma famosa papelaria da cidade, os trabalhos de tradução, a produção de ensaios para a universidade, as leituras feministas e a escrita, impressão e distribuição a distância de Luvas de pelica (1980), seu terceiro livro.

 

 

 

 

Já os cartões-postais, que também integram o conjunto recém-chegado ao IMS, deixam rastros da passagem de Ana C. em curtas viagens por outros países da Europa. Da Grécia, escreve: “Tô por aqui nessa Grécia curtindo os astrais do verão. Aproveitando o pouco do mar e sol que restam (…)”. De Paris: “Em Paris de novo. Minha filha, essa cidade me mata. Será porque é a Cidade Luz? Não sei bem o que tem aqui. Deviam proibir. (…)”. De Roma: “Meu pai embarcou hoje. Fiquei sozinha e católica. Queria ver missa do galo no Vaticano (…)”.

A maior parte das cartas foi publicada em Correspondência incompleta (1999), volume relançado em formato digital pela editora e-galáxia em 2016. No entanto, é no manuseio do material manuscrito – o contato ao vivo – que se percebem rasuras, lapsos, grafias inconstantes e gracejos de fim de página. Marcas vivas do ausente.

 

 

 

 

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